Desabafo de uma Pré-Vestibular Cotista

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 Vou começar o texto com algumas informações preliminares. Caso você não goste delas, se sinta ofendido, não se interesse pelo texto ou coisa parecida, por favor, não perca seu tempo com essa leitura e muito menos com comentários agressivos. Obrigada.

  1. Escrevo aqui com o intuito de descrever situações vividas por mim, portanto, não incluo aqui a voz de ninguém que não seja eu mesma.
  2. Esse texto não pretende tratar das cotas raciais, mas não porque eu não concorde com elas (eu concordo) e sim porque não sou negra, mulata, parda, indígena, afrodescendente ou amarela. Assim sendo, nunca sofri preconceito racial de nenhum tipo e, portanto, não tenho condições de exprimir com fidelidade os sentimentos de um pré-vestibular que tenha passado por isso.

Presto Medicina. Estudei na ETEC Parque da Juventude durante meu ensino médio. No meu terceiro ano (ano passado), estudava de manhã no colégio e fazia cursinho no Anglo Tamandaré à tarde. Estudei de domingo a domingo. Acordava às 6h da manhã, assistia a aulas no colégio até 12h30, assistia a aulas no Anglo das 14h20 até as 18h20. Em casa, estudava da hora que eu chegava (19h) até meia noite, as vezes uma hora da manhã. Todos os dias.

De sábado estudava. De domingo estudava. Jantava ao mesmo tempo que estudava. Estudava no ponto de ônibus. Estudava em visitas à casa dos meus avós. Estudava durante a aula de Educação Física enquanto meus colegas jogavam futebol. Tenho o orgulho de dizer que fiz todas as minhas Tarefas Mínimas e Complementares. Cabulei apenas algumas das últimas aulas de Texto do cursinho, em dezembro, quando já sabia que não havia passado em nenhuma faculdade. Fui em todas as aulas de inglês. Fazia minhas TMs e TCs durante as aulas do colégio, enquanto o professor dava aula de outra matéria.

Só que eu não sou um ser perfeito (muito longe disso), então eu dormia em algumas aulas no colégio também. E todas essas coisas que eu fazia me prejudicaram de inúmeras formas: Sei que muitos professores se decepcionavam comigo por eu estar dormindo ou fazendo outras coisas enquanto eles davam aulas no colégio e que muitos amigos se ressentiam pelo fato de que eu não lhes dava atenção. Tive problemas com dor de cabeça durante o ano por conta de falta de sono, emagreci quatro quilos, briguei com meus pais inúmeras vezes, deixei de falar com meus avós o quanto deveria, deixei de conversar com meus irmãos e com o meu primo (que é como um irmão pra mim também), deixei de sair com meu namorado diversas vezes, impedi que meus pais fossem à praia de fins de semana porque eu precisava estudar.

Resumo? Sufoquei minha vida. De verdade. Comecei a ser mais amarga ou agressiva com pessoas que não mereciam minha agressividade e tudo isso porque eu via que todo meu esforço, minha luta, minha loucura não levava a lugar nenhum, porque eu corria em círculos, sem saber a diferença entre velocidade angular e escalar, porque não entendia absolutamente nada de elétrica, porque não conseguia resolver exercícios de estequiometria, porque não fazia a mínima idéia da diferença entre pretérito perfeito e imperfeito, mesmo depois de fazer todos os exercícios, todas as tarefas, todas as leituras (Conhece os intocáveis? Eu li todos eles. TODOS.)

Resultado? Ah, tirei 58 na Fuvest. Uma nota incrivelmente decepcionante e insuficiente pra quem presta medicina. Me revoltei com a minha escola, que eu tinha amado tanto durante meu primeiro e segundo ano pois ela havia me dado amigos, professores maravilhosos e uma liberdade fantástica, porque quando resolvi que ia estudar lá (e tive que passar em um Vestibulinho pra isso) fui achando que eu estaria bem preparada pro Vestibular, porque vende-se uma ideia de que essas escolas são tão boas quanto escolas particulares, no âmbito de preparação para os exames.

E é claro, me arrependo muito dessa revolta, porque grande parte do que eu sou hoje se deve à experiência maravilhosa que tive estudando no PJ.

Mas essa história vendida é falsa. Eu não posso de maneira alguma comparar o ensino que eu tive com o ensino que um aluno do Dante, Bandeirantes, Etapa, Mendel, Arquidiocesano ou de qualquer uma dessas “escolas-celebridades”.

Escolas que eu nunca poderia ter estudado, pois para pagá-las seria necessário que meus irmãos não estudassem ou que minha família vivesse de favor na casa de alguém. E não porque eu sou pobre, miserável. Eu não sou. Eu tenho uma vida ótima. Mas eu não tenho quase três mil reais para gastar por mês em um colégio. Tenho o dinheiro da mensalidade do Anglo, que com o meu desconto, não paga nenhum colégio de ensino médio minimamente respeitável.

E esse texto é pra você, aluno de um desses lugares (que depois foi fazer cursinho no Anglo), porque você que é o verdadeiro concorrente de medicina. Você que só está no seu primeiro ano de cursinho, que fez intercâmbio, viajou com a família pra Europa, que vai ganhar um carro do papai quando entrar na faculdade, que não estudou no seu terceiro ano porque estava preocupado com a sua viagem para Porto Seguro. Você que reclama dos professores do Anglo porque seus professores do colégio ficavam fazendo gracinha na aula e você acha que cursinho tem que ser engraçado.

Você que não faz nem as Tarefas Mínimas e que não comparece aos simulados de final de semana. Você que estuda 3 horas por dia e sai toda sexta feira com seu namorado. Você que cabula aula de química porque sabe tudo de equilíbrio químico e acha mais interessante sair com os amigos pra ir no bar porque, afinal de contas, você precisa descansar. Você que não assiste aula de redação porque sua escola te deu uma aula melhor do que a do Anglo. Você que não deixou de conversar com seus pais, seus avós, seus amigos…

Você que não sufocou sua vida com um monte de estudo louco. Você, caro colega, que nesse seu primeiro ano de cursinho estudou de maneira “light”, que não sacrificou sua saúde e que tirou muito mais do que eu no meu primeiro ano de Fuvest.

Você que tirou 69 e está revoltado porque os alunos de escola pública, como eu, se tirassem 69 teriam uma esmola de cota que os colocariam a sua frente. Alunos de escola pública que estudaram tanto quanto eu.

Alunos que, como eu, ficaram quase o segundo ano inteiro sem ter aula de física, mais de 4 meses sem ter aula de espanhol. Alunos que, como meus colegas que inauguraram a ETEC Parque da Juventude, receberam do grandiosíssimo governador do Estado de São Paulo uma escola sem ventiladores ou sem instrumentos de laboratório, que serviu como propaganda política por diversos anos, sendo que todos os equipamentos necessários para o bom funcionamento da escola foram conseguidos com o trabalho duro da Associação de Pais e Mestres, sem o auxílio desse mesmo “governo” que nos dá um bônus nos vestibulares e que permite que nossos professores, tão esforçados e trabalhadores, ganhem a fortuna de 10 reais a aula/hora.

Você, respeitoso colega, provavelmente teve aulas de ótica, de ondulatória, de eletromagnetismo, de embriologia, de botânica, de filosofia, de história do brasil pós República Velha, de geografia física da Europa, dos Estados Unidos e da China e tantas outras aulas essenciais para qualquer um que quer prestar vestibular. Eu não tive. Meus colegas não tiveram. Os seus livros são comprados das melhores editoras, nos melhores lugares. Os meus são fornecidos pelo governo, e não posso negar que muitos são excelentes, mas não posso deixar de dizer que muitos são péssimos.

E você, amável colega, fluente em inglês, civilizado, viajado, carregando seu Iphone no bolso por ai, você é o primeiro a cuspir que é contra as cotas de escolaridade pública. Você é o primeiro a dizer que é um “absurdo o cara sair na frente só porque ele estudou em uma escola pública”, você que tem a cara de pau de dizer que “as pessoas estudam nessas escolas só para ganhar cota” e que “essas pessoas roubam nossas vagas, destroem os nossos sonhos”. Você, meu amigo, deve começar a pensar melhor no que diz.

E eu estou falando tudo isso de uma ETEC, que as pessoas tem que realizar prova pra entrar. Eu estou digitando isso do meu computador, na minha casa, confortável na minha cadeira. Eu sou privilegiada. Não como você, mas sim, sou privilegiada. Sou privilegiada porque meus professores eram interessados, bem formados. Tive uma professora de biologia no primeiro ano que deixou de trabalhar na área de pesquisa para dar aulas e que dá aula no Bandeirantes, professora que me ensinou citologia como ninguém. Tive professores de física e matemática que não desistiram de tentar dar aula, mesmo quando a classe se mostrava visivelmente desinteressada.

Tive o privilégio de ter redações corrigidas por uma professora que já corrigiu redações no Anglo. Tive aulas de Projeto Técnico Científico, que me ensinaram o que era uma pesquisa científica e que me será indiscutivelmente importantíssimo na minha vida acadêmica. E essa mesma professora, que me ensinou tudo isso tão bem, conseguiu me fazer entender a luta pela terra, a cartografia e os horizontes do solo de maneira fantástica. Todos esses professores ganham 10 reais por aula. Dez reais é quanto você gasta na cantina do Anglo com seu chá e seu croassaint.

Essa minha escola pública me levou até a Unicamp de Portas Abertas e lutava pra tentar nos ensinar o máximo que podia. Esse minha escola aprovou inúmeros colegas meus na Unesp, na Usp e na Unicamp. E mesmo assim, querido amigo, colegas que tiveram que ralar muito mais do que você pra tirar uma nota menor do que a que você tirou na sua primeira Fuvest, no seu terceiro ano de colegial.

Agora, pense nas outras escolas. É, aquelas, abandonadas por ai. Aquelas na periferia. Aquelas onde não só os ventiladores faltam, mas os livros, as carteiras e os banheiros também. Aquelas nas quais os alunos não tem pai, não tem mãe. Não tem o que comer na janta. Não tem roupas para usar pra ir à escola. Aquelas que os professores ganham menos de 10 reais por aula. Aquelas em que muitos alunos não sabem o que é uma Fuvest.

Pense nos adolescentes da nossa idade, que foram ao posto de saúde e conheceram um médico legal e sonham em ser médicos. Essas pessoas têm menos oportunidades que eu e muito menos que você. Essas pessoas não roubam suas vagas. Essas pessoas muitas vezes não conseguem tirar a nota considerada mínima pela Fuvest. Essas pessoas não tem condições de estudar no Anglo Tamandaré. Pela cabeça dessas pessoas nem passa a idéia de ir estudar no exterior porque “Faculdade no Brasil tá difícil”.

Eles, eu, nós, os cotistas em geral, estamos começando a corrida muito depois de você. Estamos inacreditavelmente atrasados. Não estamos pegando um “boost” na sua frente. Não estamos na sua frente. Talvez nunca estejamos. Você consegue entender isso? Estamos atrás, quilómetros atrás, descalços, na chuva, sem protetor solar, enquanto você corre em uma bicicleta de marcha, com seu boné importado.­

Então, da próxima vez que você decidir cacarejar sobre a injustiça das cotas, lembre-se disso e cacareje sobre a injustiça que sai de seus lábios.

84 comentários sobre “Desabafo de uma Pré-Vestibular Cotista

  1. hahahahahahahaha, voce acha que todo colégio particular é no nivel desses mais tops de sao paulo ? eu pagava 700 pau de colégio e era uma merda, n tinha aula de fisica nem de matematica. Nao sou nenhum genio, fiz 6 meses junto com o colegio estudando “light” e fiz 55. Se voce acha que precisa de toda essa carga cultural pra entrar em medicina pode desistir, porque vc ta é inventando desculpinha. Aprende a estudar direito ao inves de estudar que nem uma debil mental. Voce ainda teve condiçao de fazer cursinho junto com colegio e ta chorando ? Pelo amor de deus, amiguinha.

    • Rafael, acho que você não entendeu uma parte do texto. Eu disse “esse texto é pra voce, aluno desse colégios… e mencionei os colégios”. Se você não estudou nesses colégios, não estava falando sobre você. E eu não invento desculpas. Eu sei muito bem que estudei de maneira errada, mas não é esse o ponto. O seu argumento de que tirou 55 estudando “light” só acrescenta à minha argumentação, afinal, seu colégio particular, apesar dos defeitos, te possibilitou tirar uma nota quase igual a minha, estudando bem menos, sacrificando bem menos da sua vida. Te possibilitou tirar uma nota maior que muitos dos meus amigos, que estudaram muito também.
      Outra coisa, nunca disse que preciso da carga cultura de ir viajar e todas essas coisas para passar no vestibular. Utilizei isso como exemplo de oportunidades que as pessoas têm quanto têm dinheiro, independentemente de isso ajudar ou não no vestibular.
      Além disso, não estou reclamando da minha situação. Como disse no texto, sei que sou privilegiada e agradeço por poder fazer cursinho. O meu ponto foi trazer argumentos, acontecimentos, para fazer com que as pessoas pensem antes de afirmar coisas como as que eu citei no fim do texto.
      Apesar da sua ironia e pelo “débil mental” saiba que sua resposta é muito importante para mim. Espero que tenha entendido.

      OBS: Eu nunca disse que todo colégio particular é do nível dos mais tops de são paulo.

    • Hm… Primeira coisa que eu pensei quando li seu comentário… Pra quê então vc pagava 700 reais de escola? Segunda coisa que pensei: você realmente merece que alguém passe na sua frente por não ter se esforçado. Tem gente que faz muito menos que você depois de dois anos de cursinho.
      Terceira coisa: se você não é contra as cotas, que porra vc está fazendo criticando essa menina? E se é, por quê não citou isso no seu lindo comentário? Argumente direito, Sr. “Sou aluno desprivilegiado de escola particular”.

    • Antes de tudo, parabéns pelo texto. Não sou favor das cotas, ou melhor, de certos pontos deste benefício. Minha opinião não é baseada no fato de que o ensino de uma escola pública, ou de uma “escola não-estrela”, é inferior a uma à poliedro, e sim no fato de que um aluno tem de ser selecionado com base na meritocracia, cuja as cotas não respeitam. Um vestibular como o da FUVEST necessita do candidato uma preparação especial: com horas de estudo – em casa e não no cursinho; material apropriado, não digo de marca, digo apropriado; e uns três anos de dedicação. Não é obrigatório estudar no Bandeirantes e usar lapiseira da Pentel para ingressar na Unicamp, mas também não é porque você estuda em uma escola pública que deve ter a sua vaga garantida. As cotas retiram de pessoas merecedoras a chance de ingressar nas maiores universidades do país, o que serve apenas para explicitar a mediocridade do nosso ensino superior e médio. Se for para mudar o ensino no Brasil, que não comessem pelas provas de seleção, e sim pela base. E somente quando o fundamental e o médio forem melhorados, dando condições para quem quer estudar, estudar, haverá uma maior democratização do ensino superior brasileiro. Por hora, assistencialismos do tipo da “a cota”, do modo como são aplicados, servem apenas para duas coisas: colocar pessoas despreparadas em universidades de renome, como a USP – poucos serão os cotistas que se destacaram; e para conquistar eleitorado, afinal, os jovens são os mais difíceis de serem angariados.

      • Matheus,
        Em primeiro lugar, gostaria de te dizer que, na minha opinião, a meritocracia é uma mentira que nos contam desde pequenos. Veja bem: Se a meritocracia realmente existisse e funcionasse bem, as pessoas pobres que são exploradas diariamente e recebem um mísero salário mínimo por mês para trabalharem exaustivamente não seriam mais pobres. Enriqueceriam e teriam uma prosperidade invejável. E isso é apenas um exemplo. (Ou você é daqueles que acredita que todos que são pobres só o são porque são vagabundos e não trabalham? Porque se você tiver essa opinião, ai já não posso mais dizer nada).
        Em segundo lugar, sei muito bem que não é obrigado estudar no Bandeirantes e usar Pentel para ingressar no vestibular e sei muito bem que só estudar em escola pública não te dá vaga em lugar nenhum.
        Em terceiro lugar, as cotas não tiram pessoa merecedora nenhuma do ingresso na faculdade. As cotas não elevam a nota de uma pessoa que tira 12 no vestibular para 70. A grande maioria das pessoas que tem direito as cotas por estudarem em escolas públicas ou por terem baixa renda tem desempenhos péssimos no vestibular e esse desempenho é insuficiente para tirar a vaga de alguém. As cotas NÃO TIRAM VAGAS. É isso que vocês tem que entender. Se fosse só pela cota, como você afirmou em seu comentário, se só ela colocasse as pessoas na faculdade, muitos dos meus colegas e inclusive eu já estaríamos nas universidades e não estamos, porque é preciso um desempenho alto de qualquer jeito. (Se quer um exemplo, leia o edital da FUVEST: é preciso tirar mais de 60 pontos para receber um bônus de 12% no valor da nota. E os que tiram menos que isso? É um bônus calculado por uma função maluca e você pode fazer algumas contas que constatará que são pouquíssimos os pontos ganhos).
        Em quarto lugar, as cotas por si só não colocam ninguém na faculdade. É preciso muito esforço e dedicação para conseguir ingressar, mesmo com esse “auxílio” e, portanto, as cotas não colocam pessoas despreparadas em universidades de renome como a USP.
        Para encerrar: Concordo que melhorar o ensino de base é essencial para melhorar a educação no brasil e que o uso de cotas é apenas um paliativo e sem um real investimento em educação não serve de nada.

      • Em que mundo que cota é vaga garantida? Eu posso estar enganada, mas parece que dá pra aplicar cotas de várias maneiras, na etec mesmo a cota é uma porcentagem do seu acerto, então se você for mal na prova, acertar 5 questões, não vai ser ameaça pra ninguém. Não tenho certeza mas acho que alguns sistemas de cotas falam que um porcentagem das vagas serão destinadas a pessoas de escolas públicas, você sabe quantas pessoas estão nessa condição? Continua concorridíssimo. A mim parece mais coerente que quem teve como estudar em colégio particular concorra com quem teve essa mesma condição, e o pessoal de escola pública com outras pessoas que estudarem em escola pública.

      • “Se for para mudar o ensino no Brasil, que não comessem pelas provas de seleção, e sim pela base. E somente quando o fundamental e o médio forem melhorados, dando condições para quem quer estudar, estudar, haverá uma maior democratização do ensino superior brasileiro.”
        Concordo plenamente, mas ai pergunto: E até isso acontecer, quem estuda nas escolas publicas que não são boas, devem ser deixados de lado? Não né? Daí a necessidade de existir cotas temporariamente!

        “…colocar pessoas despreparadas em universidades de renome, como a USP – poucos serão os cotistas que se destacaram…”
        Matheus, faço medicina na USP, ingressei em 2010, e ,no primeiro dia, o diretor da graduação nos deu uma aula sobre o perfil dos alunos que ingressam na FMUSP(Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Nela ele mostrou resultados de um estudo que é desenvolvido há anos no qual mostra que não há NENHUMA diferença de nota e desempenho, ao final do curso, entre alunos que ingressaram na FMUSP por cotas ou sem cotas! Na verdade, existe até uma singela tendência dos alunos cotistas a irem melhor, já que estão acostumados a se esforçarem mais(sugere o estudo). Então seu argumento é inválido!

        As cotas Não são uma solução ideal e definitiva, mas são extremamente necessárias até que se mude o quadro da educação no Brasil! Agora, pra aluno das boas escolas particulares ficarem criticando na internet sobre o sistema de cotas é fácil, facílimo! Mas lutar pela melhora do ensino público, lutar por mudanças, lutar para fazer um Brasil melhor, nada.Pois isso sim ia tornar desnecessário o sistema de cotas. Mas é difícil né? Melhor xingar muito no twitter mesmo…

    • Rafael, comentário babaca o seu. Eu vivo nesses dois mundos. Hoje estudo na Poli, e estudei no colégio Etapa, hoje em dia dou até aulas de robótica lá. Estudei porque tive bolsa de estudos. Porque dei sorte. Sorte que meu irmão, por exemplo, não deu. Ele também estudou na Etec, fez cursinho esse ano, no Etapa inclusive, e fez menos de 50 na Fuvest. Ou minha namorada, que quando prestou também fez por aí. Parece que você não leu o texto. Eu convivi com os dois tipos de pessoas. Sei das dificuldades, das lutas, e mesmo estudando na USP sei como é difícil, por exemplo, perder 5 horas por dia me deslocando até o Campus, enquanto a maioria dos meus amigos tem carro e moram nas redondezas e acham um absurdo pegar meia hora de trânsito pra chegar em casa, afinal precisam de tempo pra estudar.
      E para a autora, parabéns e não desista. Conheço uma história parecida, mas depois de “pegar o jeito” de como estudar, foi primeira colocada na fuvest de 2011. E apesar de você não ter toda essa vivência, que sim, nos faz falta, você tem outro tipo de vivência. Não vive na bolha deles, sabe como é o mundo real, sabe que sua vida perto da deles é um lixo, mas perto da maioria é sensacional, você sabe, eu sei, e apenas mais alguns sabem como é viver entre esses dois mundos. E isso vale mais do que qualquer repertório cultural dos almofadinhas com os quais convivi. (E apesar do termo pejorativo, tenho amigos assim, sim, amigos, mas que infelizmente não veem mais do que esse mundinho deles).

      E parabéns pelo texto. Pelo menos em redação você não precisa se preocupar. Estou torcendo por você.

  2. Estranho o fato de você não querer comentários agressivos, mas no meio do seu texto começar a atacar aqueles que se dizem contra as cotas, e serem melhores privilegiados que você. Uma coisa define a outra, se não quer ser atacada, não ataque, e isso ainda falta você aprender. Pois isso não é o Dante, o Bandeirantes, o Etapa, o Anglo Tamandaré, a ETEC ou a escola da periferia que ensina, isso é a vida. Mas tudo bem, você vai aprender isso ainda, e espero que você passe com a sua cota no seu próximo vestibular pra Medicina já que você se orgulha tanto dela. Não, não sou contra as cotas, e sim, eu sou um dos mais privilegiados que você, que você citou no texto, por isso te deixo outra dica: Não generalize, pois toda generalização é burra! Boa sorte pra você no próximo, e a última coisa que espero de você é que você reflita se realmente valeu a pena sufocar sua vida.

    • Luccas, acho que você me entendeu mal ou eu me expressei de maneira insuficientemente clara. Quando me referi a comentários agressivos, estava querendo dizer comentários que se limitam apenas em utilizar palavrões e ofensas, sem argumentação. Mas ser “atacada” com idéias opostas, comentários irônicos e outros tipos de “ataques” mais críticos é algo que desejo, pois cada opinião é importante para mim, me ajudará a ampliar minha visão de mundo e isso é algo extremamente positivo.
      Além disso, acredito que não fui genérica na minha caracterização dos tais “privilegiados”. Acredito que fui bem específica, numerando por parágrafos talvez exageradamente longos, as características dessas pessoas as quais dirijo minhas críticas. Se você é uma dessas pessoas ou não, isso é outra coisa. Para ser mais clara: estava me referindo a pessoas reais, mas sem citar nomes pois muitas vezes nem sei seus nomes, mas ouço seus comentários por corredores ou nas aulas.
      Muito obrigada pela boa sorte. Esse ano já foi com certeza uma vitória para mim nos vestibulares. Refleti sobre o meu comportamento ruim muitas vezes e já mudei. Inclusive, quis fazer esse texto para que as pessoas que me conhecem entendam o meu arrependimento.

  3. Querida, seu texto é primoroso… sou professor de História em uma Etec tal qual a que você estudou e concordo com quase tudo o que você tão densamente escreveu. Estamos realmente em frente à um paredão quase intransponível de hipocrisia e abandono sem fim. Caminhamos para um futuro incerto de verdade quando o assunto é propor condições para que nossa população tão desigual e tão crescente possa ser algo na vida para, por sua vez, propor algo para essa nação que os acolhe. Continue firme! o velho Goethe dizia sempre: “o homem firme em seus propósitos, molda o mundo a seu gosto.”
    Não desista jamais.

    • Muito obrigada pelo seu comentário! Fico muito feliz de saber que professores como os que eu tive estão pelas outras Etecs também e é muito importante para mim saber que tenho o apoio de vocês. Estou realmente agradecida 🙂

  4. Eu entendo completamente você!
    Também vim de ETEC (sai faz dois anos), também acreditei que iria me preparar, porém a realidade é que não vi metade da matéria de física que é cobrada nos vestibulares, matemática as coisas básicas das básicas.
    Devido a essas coisas um professor do cursinho disse que teria que praticamente refazer meu ensino médio, ou seja, praticamente ficar 3 anos no cursinho pra poder aprender aquilo que não me foi ensinado, pra tentar competir com pessoas que saem desses colégios (os mesmo que você citou!), isso me deixou tão triste que desisti do meu sonho chamado medicina, que tinha desde que era pequena!
    A realidade das cotas é que ela pode te ajudar na primeira fase, mas na segunda infelizmente não ajudam!
    Infelizmente irei pro meu terceiro ano de cursinho possivelmente, tentar outro curso, que talvez eu passe!

    • Letícia, muito obrigada por seu comentário. Gosto muito de saber que meus sentimentos são compartilhados por outros estudantes de Etecs. Só gostaria, talvez, de poder te convencer de não desistir de seus sonhos. Eu sei que é difícil, mas a luta um dia terá sim sua recompensa. Gostaria muito de ser sua companheira de faculdade ou de trabalho um dia. Veja bem se as suas outras opções te trariam tanta felicidade, satisfação etc do que medicina. Te desejo boa sorte!

  5. Estudando light ele tirou 55? Fiz 40 ano passado junto com o terceiro ano e esse ano fazendo 1 ano de cursinho tirei 54. Também fiz etec e vejo que sua escola te preparou mto melhor que a minha 🙂 Eu não sabia que se estudava radioatividade no ensino medio, nao sabia o que era NOX, o que era embriologia, nunca estudei isso. Ótica eu tive algumas coisas, por exemplo o que é espelho côncavo e ondulatoria? Nao sabia que estudava no ensino medio tambem. Não me diga que é desculpa! Não estudei errado, como uma debil mental, me esforcei muito e meu resultado foram 54 miseros pontos depois de um ano.

  6. Posso afirmar com segurança que mais de 90% dos colégios particulares não passam nem perto dos tops de São Paulo.
    Nenhum dos alunos desses colégios tem essa tal “esmola” e, muito menos, um ensino de qualidade, mesmo com o imenso esforço dos pais para pagar mensalidades acima de R$600,00.
    Você, que fez ETEC, está incluída numa minoria que possui uma IMENSA vantagem em relação aos alunos de rede pública e a muitos alunos de rede particular.
    Tá chorando de barriga cheia.

    • Olá Thiago. Acho que você também não entendeu muito bem meu texto. Não o fiz com o intuito de “chorar de barriga cheia”. Disse durante o texto que sei que sou privilegiada. Não quero ninguém passando a mão na minha cabeça. Além disso, nesse texto, não entrei no quesito “escolas particulares caras e ruins”, pois acredito que isso se trata de um problema muito diferente e que não tenho conhecimentos suficientes para argumentar. Foi por isso que fui bem específica, me direcionando aos estudantes dos colégios “tops” de são paulo, e não os outros.

      • Entendi sim, Lari.
        Os alunos/colégios que você chama de “tops”, certamente não aprenderam por osmose. Hahahaha
        Esse milagre colégio nenhum faz. São tão merecedores como qualquer um que conquistar a vaga. E digo mais, eles são EXEMPLOS por agarrarem as oportunidades que tiveram na vida.
        E se você tem condição de fazer um cursinho, ainda com o apoio das cotas, você também tem essa oportunidade.
        Você está mirando no alvo errado ao construir a crítica. Eles reclamam das cotas com razão, pois elas são a máscara de um problema maior.

      • Sei muito bem que os alunos não aprender por osmose, Thiago. Sei que são merecedores porque tem suas oportunidades e se agarram a elas. Não estou criticando as pessoas que vem desses colégios aleatoriamente e muito menos os culpabilizando pela dificuldade de entrar em uma boa faculdade. Estou criticando ALGUMAS pessoas ignorantes por ai, que por um acaso do destino. acabam sendo de alguns desses colégios que pensam que um cotista tira a vaga deles. Foi isso que quis criticar. Não pretendi fazer um texto de crítica ao governo pela sua incapacidade de gestão e seu descaso com a educação no Brasil, principalmente porque me falta habilidade para debater um assunto tão complicado como “como arrumar a educação no Brasil”. Mas sei muito bem que as cotas são um paliativo e que sem um investimento em educação real e eficiente não haverá evolução educacional nesse país. E não estava me referindo as pessoas inteligentes que sabem que as cotas são a máscara de um problema maior, essas pessoas estão certas de criticar as cotas. Estou criticando pessoas que simplesmente acham que cota é sinônimo de vaga roubada, o que volto a dizer, é um absurdo. Infelizmente, as pessoas que conheço não tem um argumento maravilhoso como esse “de que as cotas são a máscara de um problema maior”. Elas não acreditam nisso. Infelizmente. Gostaria de conhecer algumas pessoas mais inteligentes que realmente pensassem dessa maneira, como provavelmente você pensa.

    • Só queria dizer que boa parte das pessoas não entende que essas escolas “técnicas” não te preparam pra vestibular, e sim pra ser peão. A qualidade de ensino não é comparada à maioria das escolas particulares por dois fatores: o foco não é vestibular e o material é escasso. Fora as greves. O que faz a qualidade dessas escolas na maior parte das vezes são os alunos, que foram selecionados por vestibulinhos muitas vezes injustos.
      E sim, eu posso falar porque estudo em uma delas. Sou da Federal.

  7. Simplesmente foda. Saí da ETESP e não só entendo, como concordo. Dá ódio estar no cursinho e ouvir “af as cotas vão baixar muito o nível da USP.” Sinceramente né. Parabéns pelo texto.

    • Concordo com você, está certíssima. É difícil concorrer e aturar pessoas assim. Formei esse ano no IFNMG-Campus Pirapora. O ensino era o melhor da cidade, mas não o suficiente para concorrer com diversos alunos de MG, que estudam em colégio extremamente caros e tem preparação específica para as provas. Belíssimo texto, disse toda a verdade. Parabéns, você vai longe…

  8. Eu já fui uma dessa pessoas que são contara as cotas por escolaridade publica. Não posso dizer que foi o seu texto que me “converteu”, até porque minha opinião mudou a muito tempo. Alias, minha opinião não mudou. O que mudou foi o modo com que eu aplico ela.

    Atualmente eu penso que as cotas são necessárias uma vez que nosso país tem um sistema de educação tão fraco, onde o dinheiro que deveria ser investido na mesma, assim como diversos outros pontos que poderiam ser melhores por aqui, acaba caindo no bolso de uma minoria que cria leis de modo a permitir que continuem a fazer isso. É uma medida paliativa necessária, mas não se pode parar por ai. E eu acredito que você também pense assim.

    As cotas representam a fragilidade do sistema no geral e, com elas, torna-se possível que alguém de baixa renda – muito esforçado, diga-se de passagem – possa correr atrás de um sonho que antes seria impossível. E eu posso enfatizar o “muito esforçado” uma vez que a percentagem de cota existente atualmente relacionado a nota, não a quantidade de vagas, não serve de “passaporte” para a faculdade.

    Não sei se eu disse algo interessante nesse comentário, ou se apenas enrolei e não disse nada, mas o fato, relacionado a seu texto, é o seguinte: Assim que o li eu compartilhei, mandei para amigos nos chats da vida com a seguinte frase, que representa meu verdadeiro sentimento sobre ele “Eu não consegui encontrar palavras suficientes para fazer algum comentário sobre toda verdade que existe nesse texto.”

    Apesar da aparente contradição, visto que este é um comentário bem grande, essa frase ainda é verdadeira. Não consigo articular o sentimento que ele me trouxe em palavras. Apenas digo que concordo completamente.

    • Paulo, não se desculpe pelo seu comentário. Ele está maravilhoso, na minha opinião. Na minha opinião, você foi um dos que melhor compreendeu minhas palavras. Os seus dois parágrafos que começam com “Atualmente…” e “As cotas…” são realmente algo com que eu concordo muito mesmo e fiquei muito grata de você ter tido a delicadeza de dizer “E eu acredito que você também pense assim” pois penso exatamente assim.

      O seu comentário foi um dos que me dá forças para continuar falando minha opinião por ai, pois me faz acreditar que serei entendida por alguém. Muito obrigada mesmo.

  9. Sou professora da Rede Pública, tanto Estadual quanto Municipal e já adianto que sou contra as cotas. Mesmo assim, achei o seu texto muito bom, expondo uma realidade que eu mesma passei, pois estudei em escola pública no Ensino Fundamental e em uma ETEC no Médio. Na época não havia cotas. Eu queria ser professora, graduei-me em Letras, fiz especialização e mestrado.
    Assim como você, fui privilegiada, sempre tive conforto em casa. Hoje, em uma das escolas que leciono, os alunos não sabem o que é ETEC, quanto mais uma FUVEST. Cada vez que um fala que fará medicina eu olho com dó, pois sei que esse aluno nunca terá essa oportunidade.
    Meu filho irá para umas dessas escolas que preparam desde o pré. Quero dar para ele uma oportunidade que não tive. Não sou rica, o pai tb não é, só queremos dar a ele a oportunidade que nós dois não tivemos. E confesso que ainda tenho esperança que ele faça uma ETEC ou Federal, não pelas cotas, mas pq sei que são escolas engajadas.
    Afirmo a você novamente, sou contra as cotas! Acho que as cotas são uma forma de desprezo e preconceito com determinada raça ou classe social. Acredito que todos devem ter a mesma chance. Exatamente aí que mora o problema. As cotas não deveriam ser oferecidas, o governo tem o dever (garantido em Constituição, hilário, não?!) de dar ensino de qualidade. As cotas são apenas um modo de contornar isso, afinal não há investimento, como deveria ter a Educação.
    Assim, esses alunos filhinhos de papai, prepotentes, também são vítimas desse descaso (não no caso de Medicina, mas em outros cursos menos concorridos). Pense nos alunos em “escolinhas particulares” com um ensino tão ruim quanto o público e não possuem cotas.
    O problema não está nas cotas, nas escolas “tradicionais” (além daqueles mal-criados que se acham donos do mundo, mas aí é uma questão familiar), o real problema está em um governo que ignora o próprio povo e não investe em sua Educação.
    As cotas não deveriam existir. O que deveria existir é escola pública com qualidade, professores bem pagos, estimulados, escolas equipadas e materiais de qualidade.
    Enquanto os governantes tratarem as escolas (isso vale para muitas particulares) um simples depósito de crianças, nem as cotas ajudarão. Tudo continuará da mesma forma.

    • Muito obrigada pelo seu comentário. Respeito muito sua opinião e concordo com grande parte do que você disse, principalmente no que diz respeito ao descaso do governo com a educação. Sei muito bem que existem inúmeras escolas particulares horríveis por ai e acho isso um absurdo. Afinal, são quase como empresas que estão lesando imensamente seus clientes.

  10. Belo texto! Acho que você expressou exatamente o que muita gente sente, ou já sentiu por ai. Sou prounista e seu como é. Não ligue para o que esse bando de zé ruela te disse, pq eles nunca passaram pelo que você passou, eles não tem propriedade para, se quer, discutir com você, pq falta algo à eles, a vida que vc teve! Só quem passou, sabe o que é. E pode crer, um dia, todo esse perrengue que vc passou ou está passando, será a cereja do seu bolo! Forte abraço.

  11. Triste ver que as pessoas não conseguem absorver a ideia principal do texto… Mas de qualquer forma, todos que não dão valor às coisas deveriam ler esse texto. Eu, que faço etapa, vejo essa realidade de perto… de pessoas que fazem pública e muitas vezes nunca haviam ouvido falar em diversas matérias durante as aulas… É triste e revoltante.

  12. Olha, voce estudou d amaneira errada ou voce tem alguma dificuldsde de aprendizado, porque estudando do jeito que voce DIZ que estudou qualquer pessoa, ate aquelas que passaram 20/30 anos sem ler um texto conseguiriam se sair bem, ou se nao fossem colocariam a culpa emsi mesmo e nao na escola em que estudaram se fazendo de vitima. Estudei em escola particular a vida TODA só pq consegui bolsa e nem por isso tive condiçoes de pagar um Anglo, fiz Henfil e parei por falta de grana mesno. Acho uma baboseira se fazer de coitado pra justificar uma medida paliativa que nao melhora em NADA a educção no pais. Voce disse qe “se vc n estudou em uma dessas escolas o texto a favor das cotas n é pra voce” mas acontece que as cotas recaem sobre nos tambem cujos pais se mataram pra poder pagar uma escola um pouquinho melhor.

    • Mariana, gostaria de te dizer que eu não tenho nenhuma dificuldade de aprendizado diagnosticada. Mas se você quiser me analisar, quem sabe não descobre! É obvio que estudei de maneira errada no meu primeiro ano de cursinho, pois estudar que nem uma maluca não te leva a lugar nenhum se não houver descanso para absorver o conhecimento. Descobri isso depois de cometer o erro, afinal de contas, sou humana e tenho o direito de errar. Então, não diga que “porque estudando do jeito que você estudou qualquer pessoa…” isso é um absurdo. Acredito que até mesmo as pessoas que me criticaram fortemente nos comentários e que discordam de mim irão discordar de você: passar no vestibular não é fácil não. Independente da escola que você fez (sendo que algumas escolas proporcionam maiores ou menores dificuldades futuras).
      Gostaria de dizer também que em momento algum estava tentando me fazer de vítima. Sei muito bem que meu insucesso se deve exclusivamente a mim e não culpabilizo nenhum dos meus concorrentes por isso, porque isso não é lógico.
      Sinto muito por você ter estudado em escolas particulares, com bolsa, que não te deram o conhecimento suficiente. Acho que isso é um problema sério. Afinal, sua escola era uma empresa e você é uma cliente muito descontente. Deveriam haver leis em seu favor. E não tenho condições de pagar “um Anglo”. Tenho bolsa no anglo, como você teve em sua vida toda. Pago um preço que não paga nenhuma escola particular descente perto de onde eu moro. Esse foi inclusive um dos motivos que me levou a estudar em uma ETEC: acreditar que ela seria melhor do que uma escola particular vagabunda que eu teria condições de pagar. Mas não sei se foi. Não posso saber, porque não fiz a tal escola particular.

      Seus pais deveriam reclamar com o PROCON e não com os cotistas.
      Obrigada pelo comentário.

  13. Primeiramente gostaria de dizer que você escreve muito bem! Vim através do compartilhamento do post por uma amiga do Facebook.
    A respeito do tema tratado, concordo quase plenamente com você. Estudei a vida toda em escola pública. Até a 8ª série estudei numa escola de periferia onde via parte dos garotos que eram da minha sala indo assistir aula “chapados”. Triste. Sou de uma família humilde, meus pais sempre batalharam para dar a nós uma vida digna, sempre os admirei por isso e tenho muito orgulho deles. Vi minha vida mudar de rumo quando conquistei o sonho de estudar em uma escola pública Federal, caramba! Pensei que entraria em uma escola de excelência, similar à essas tais particulares que você citou, mas que em vista da escola estadual que estudei é mil vezes melhor, acredite. Fui agraciada por cota de 10%, o que salvou o meu pescoço e me deixou como última colocada na lista de aprovados. Durante os anos de ensino médio percebi que a escola tem muitas falhas: estrutura precária dos laboratórios, falta de professores e greve que durou cerca de três meses, situações semelhantes às ETECs. Não tive oportunidade, como você, de passar o último ano do médio fazendo cursinho, afinal, tive que trabalhar e cumprir as horas de estágio obrigatórias para o meu curso técnico. Me formei em 2012, e em 2013 precisar continuar trabalhando para poder pagar meu cursinho e ajudar nas despesas básicas de casa… O trabalho acabou consumindo o pouco tempo que teria para estudar para o vestibular. Pedi para ser demitida há 4 meses atrás, saí do trabalho e continuei fazendo cursinho. Me esforcei o máximo que pude de agosto pra cá, tentando recuperar o tempo perdido, mas não foi dessa vez. Fiquei 5 pontos abaixo do corte para o curso de Direito na USP e 5 pontos abaixo do corte na UNESP. Confesso que o meu resultado foi satisfatório para mim, mas não o suficiente para passar… Tentarei ano que vem de novo, me esforçarei o dobro se for preciso, mas irei conseguir minha vaga.
    Boa sorte à você, Lari!

  14. Entendo o que o Thiago quer dizer com “problema maior”. Também fiz ETEC, mas não concordo com as cotas pelo mesmo motivo. Servem simplesmente para “compensar” o ensino público ruim. Apesar de não concordar, acho justo, um “mal necessário”. Tendo estudado em colégio particular até o 9º ano, consegui ver bem a diferença do meu colégio antigo para a ETEC. Não que o ensino das ETECs seja ruim, ainda mais perto de outras escolas públicas do Brasil. Mas acho que não dá pra comparar com as particulares (a não ser as já citadas exceções).
    Tive professores muito bons, professores normais e professores muito ruins. Assim como passei meses sem aula de física, química, redação e sequer tive filosofia ou sociologia. Penso que, mesmo num colégio particular fraco, os alunos saem mais preparados. Afinal, mesmo num colégio particular ruim (creio eu), quando um professor falta, arruma-se um substituto ou a aula é reposta. Se um professor falta muito ou é ruim, é demitido. Nem uma coisa nem outra acontece nas ETECs, pelo menos na que eu estudei não era assim. Sem contar as já citadas lacunas de conteúdo: meus amigos que faziam cursinho, às vezes apareciam estudando coisas que eu nunca tinha visto na vida. E alguns desses amigos, inclusive, que se dedicavam de vdd ao cursinho, não conseguiram nota para passar para 2ª fase, mesmo com a cota.
    Infelizmente, a cota é necessária, pelo menos até que o ensino público seja suficiente para competir de forma justa com escolas particulares. Claro que não estou querendo dizer “até que o ensino público se compare ao do Bandeirantes”, mas o mínimo que deveria ser feito é passar o conteúdo COMPLETO, pedido em vestibulares e TER aulas, de verdade, sem ficar três, quatro meses sem professor ou com um professor que vai na escola uma semana sim, uma não.

  15. Cara, eu gostei do texto. Apesar de eu sinceramente achar um pouco exagerado em pontos mínimos. Muito do que você falou é verdade, porém, eu como sendo um aluno do Sistema ETAPA, não pago 2 mil reais para estudar nas escolas elite que você citou. Pago no máximo 600 reais, estudo na Zona Leste e minha escola é extremamente desqualificada para o ensino que tem, é ETAPA, sim, mas pessimamente aplicado. Acredito eu que eu não vá precisar de um cursinho para passar no vestibular, porque como você disse, apesar de minha escola falhar com o ensino, eu ainda possuo todas as apostilas desde o sexto ano até terceiro ano do ensino médio, e é um material didático muito bom. Bom, fica a dica para quem quiser estudar com esses sistemas caros, e acha que consegue se levar sozinho: Procurar uma escola com esses sistemas mais barata. Vale a pena, na minha opinião. Quanto ao texto, achei errado você criticar quem não apoia as cotas, sendo que o texto fez alusão somente as cotas relacionadas ao estudo público. Eu por exemplo apoio as cotas ao estudo público, já que o próprio estado (como você mencionou) não conseguiu arcar com suas responsabilidades, mas eu não apoio de maneira nenhuma qualquer tipo de cota racial.

    • Obrigada pelo seu comentário.
      Não fiz alusão as cotas raciais e portanto não critiquei e nem descritiquei pessoas que são contra essas cotas. Disse no começo do texto que me sinto desqualificada para debater esse tipo de situação.
      Critiquei pessoas que criticam o tipo de cota que mencionei, APENAS. E APENAS aquelas que criticam sem conhecer a realidade, sem pensar corretamente sobre a situação desprivilegiada de alguns. APENAS as que se enquadram em TODAS as características que mencionei no texto.

      Obrigada pelo seu comentário e pela sua opinião, que levarei muito em conta, mesmo! Desculpe pelos exageros hahaha

  16. Que vergonha, hein. Reclamando de barriguinha bem cheia tendo acesso a um dos melhores cursinhos de SP. Do jeito que você fala, parece que só paulistanos entram na USP, né? Pois saiba que são MUITOS os nordestinos (de diversos estados), interioranos e mineiros, por exemplo, que estão lá dentro. Nenhum deles passou perto do Dante ou de nenhuma dessas escolas citadas. Muitos não passaram sequer perto de cursinhos como o próprio Anglo. Eles estudaram, mereceram, passaram – e sem cotas. Digo isso porque eu sou sergipana, passei em Publicidade no terceiro ano (aos 16) e fiz mais de 70 na primeira fase (nunca lembro se 73 ou 74). Tudo isso acrescido ao fato de que decidi que queria USP no segundo semestre do meu ano de vestibular. Tive uma excelente educação, mas o meu colégio era 100% focado na universidade federal do meu estado. Em outras palavras, tive um semestre para aprender TUDO de geografia e história de SP, ler todos os livros exigidos pela Fuvest e ainda estudar assuntos que não eram sequer mencionados na minha escola – simplesmente porque não faziam sentido para o vestibular de lá. Vestibular esse que, inclusive, era num modelo completamente diferente de prova: objetivo, certas anulam erradas, V ou F. Então, por favor, antes de justificar a sua mediocridade atacando os “mauricinhos das escolas tops de SP” por saberem mais, tente VOCÊ enxergar a SUA situação privilegiada. Sou a favor das cotas sociais, mas, sinceramente, alguém com acesso ao Anglo ser elegível às mesmas é quase uma vergonha. E mais vergonha ainda é tirar uma nota dessas e culpar o mundo inteiro menos a si mesma! Corroer-se por estudar sábado, domingo, feriados, de manhã, à noite? É sério? Essa é simplesmente a rotina de qualquer um que queira passar na Fuvest, ainda mais em medicina. Stop the crap.

    • Em primeiro lugar, não estou reclamando da minha condição e em momento algum do meu texto disse que estava reclamando. Isso você concluiu por si mesma. Inclusive afirmei que sei que sou privilegiada. Aliás, me sinto imensamente feliz com a minha condição. Não tenho mesmo do que reclamar. Meu texto não trata de reclamar da minha vida e sim de mostrar para pessoas que não refletem que as cotas de escolaridade pública não tiram a vaga de ninguém. Pretendi criticar ALGUNS TIPOS DE PESSOAS que não estudam tanto e que são muito mais privilegiadas que eu (e também que você) e que (eles sim) culpabilizam os outros (os que tem cota) pelo seu insucesso no vestibular, porque é um absurdo achar que alguém sem base de ensino vai tirar a vaga de alguém por causa de um mísero bônus. Ah, e gostaria de te dizer que o meu “acesso” a um dos melhores cursinhos de são paulo se deve a uma bolsa de estudos que me permite pagar 500 reais por mês, porque se eu não tivesse bolsa, eu não teria o “acesso”. E não sei ai no sergipe, mas aqui em são paulo 500 reais não pagam uma escola de ensino médio minimamente boa e na região onde eu moro.

      Além disso, não sei de onde você tirou que eu acho que só paulistanos entram na USP. Sinceramente, gostaria de entender de onde saiu essa sua interpretação. Eu não quis dizer que só os que estudam em escolas tops passam. Eu não escrevi isso em lugar nenhum. E sua descrição da sua educação primorosa só prova que escolas particulares podem preparar muito melhor os vestibulandos que as públicas, mesmo no Sergipe e focado em outra universidade. Se não pudessem, como você teria tirado 70 pontos em seu terceiro ano? Porque as outras pessoas, que estudam em escola pública, e que se esforçam tanto quanto você ou mais que você não conseguem passar? Você acha que elas são simplesmente burras? Não é assim que funciona. É muito complicado esperar um resultado magnífico como o seu de uma pessoa que não tem professores. Muitos dos estudantes (inclusive das escolas que citei) não conseguem realizar essa proeza, mesmo com muito estudo. Não estou justificando mediocridade nenhuma. Gostaria que você lesse o texto com mais atenção da próxima vez. Não culpei ninguém (muito menos o mundo inteiro) pela minha nota. Sei muito bem que meu desempenho depende de mim e de ninguém mais. O texto não trata disso, caso você não tenha entendio. E se alguém com acesso ao Anglo, pagando 500 reais por mês, não devesse ser elegível ao uso da cota, as universidades não disponibilizariam (pois elas fazem questionários socio-economicos e tem acesso a esse tipo de informação). Se um cara que faz uma boa escola precisa de 3 anos estudando loucamente para passar no vestibular, um estudante de escola pública pode precisar de 5.

      Por favor, você stop the crap. Tente ler melhor o próximo texto que for comentar.

  17. Não sou contra as cotas, mas ainda não consigo dizer que sou a favor, apesar de saber que esse meu “pé atrás” com as cotas tem mais a ver com minha trajetória pessoal do que com minhas concepções políticas. Vivo, em verdade, em uma dicotomia: meu lado racional e cidadão clama por ações afirmativas para negros, pobres ou estudantes de escolas públicas porque ele sabe e os fatos provam que esses estudantes precisam disso para começar a almejar uma realidade diferente da que foi imposta a todas as suas gerações anteriores. Enquanto isso, meu lado individualista, meritocrático e egoísta, o qual nasceu na minha cabecinha prepotente de primeira aluna da classe e ganhou corpo durante os dois anos mais longos da minha vida (no cursinho), me impede de hastear a bandeira dessa causa sem antes fazer algumas ressalvas.
    Minha trajetória é incrivelmente parecida com a sua, Lari, mas com quatro diferencinhas: quando saí do EM, não fiz 58 pontos, mas 57 (lembro bem, porque esse número ainda me dói aos ouvidos); estudei em uma pequena escola particular de uma cidade pequena e que me legou uma quantidade de conteúdos ainda menor; justamente pela distância entre minha cidade e a capital, não pude fazer cursinho junto com o Ensino Médio como você fez e, finalmente, a mais feliz dentre as nossas diferenças: eu consegui passar em Medicina (em mais de uma universidade pública).
    Todo o resto que você relatou é tão semelhante com a minha própria história, que eu tive de largar o final de “Grey’s Anatomy” e vir até o PC para garantir que não era meu lado cidadão-racional que tinha escapado, enquanto eu cochilava, para vir postar esse texto tão comovente, capaz de fazer qualquer um repensar seu posicionamento anti-cotas ou, no mínimo, capaz de fazer uns vestibulandos riquinhos sentirem uma fisgadinha na consciência antes de embarcarem em (mais uma) relaxante viagem de férias antes das 2as Fases.
    Quando você diz que se revoltou com o ensino oferecido pelo seu colégio e que passou a ser mal vista pelos professores, eu entendo: aconteceu o mesmo comigo. Na minha escola, bem como nas outras escolas da cidade, o máximo que os melhores alunos conseguiam era uma vaga em faculdades particulares mais renomeadas como Mackenzie, FEI ou PUC. Os alunos medianos nem prestavam vestibular, acabavam partindo para cursos profissionalizantes ou ajudando nas lojas dos pais. Quanto aos meus amigos que costumavam ter as notas mais baixas: abandonaram os estudos e se casaram antes dos 20. Não me lembro de ter conhecido ninguém do meu colégio que tenha sido aprovado numa universidade pública em um curso minimamente concorrido, mesmo depois de ter feito cursinho.
    Tendo em vista esse cenário, era de se esperar que uma aluna que insistisse na ideia de fazer Medicina fosse considerada arrogante e prepotente pelo resto dos alunos. O que mais me entristece, entretanto, é lembrar dos efeitos que essa minha ambição causou, não nos meus colegas, mas nos meus professores, que se mostraram incapazes de aceitar minhas críticas, incapazes de tentar mudar um sistema de ensino que sabíamos que era falho e, mais do que isso, incapazes de reconhecer seus próprios defeitos e limitações.
    Certa vez, o professor de História disse-me, com ironia, que eu “sabia tudo”. Às vésperas do vestibular, o professor de Física teve problemas pessoais e ausentou-se por 4 meses; a Diretoria ignorou o problema e ficamos sem aula. O professor de Química, quando questionado por mim sobre uma questão de 2ª Fase da Unicamp que abordava as ligações de H intramoleculares, disse-me, categoricamente, que tratava-se de um erro de digitação do livro e que esse conceito não existia. A professora de Inglês (como me esquecer dela?) me repreendeu no meu último ano de EM porque eu não entregava as atividades extras que ela pedia (as quais geralmente envolviam verbo “to be” e acrescentavam à nota final pontos dos quais eu não precisava). A mais legal era a professora de Biologia que, recém-formada e tendo pouco mais de 20 anos, dizia para mim, baixinho, que não sabia nada de genética e pedia que eu resolvesse os exercícios e explicasse a ela antes de ela explicar para o resto da turma. Acredito que sejam casos muito semelhantes aos vividos por você, Lari, e por seus colegas, bem como por uma infinidade de outros alunos brasileiros, que têm suas potencialidades limitadas por um sistema educacional sofrível.
    Talvez o rancor que eu ainda guarde do meu colégio, não seja fruto do ensino pouco voltado para o vestibular, afinal não se pode ter um Bandeirantes numa cidade do interior a R$ 500/mês; mas sim, da falta de incentivo (psicológico, pedagógico e, por que não, financeiro) para que eu realizasse o meu sonho; é fruto, também, de um ensino precário (ou inexistente) de Filosofia, Sociologia e Artes tão ou mais importantes que as outras disciplinas ministradas, fruto de uma Diretoria que insistia em tornar a escola um microcosmo da típica (e insuportável) cidade interiorana, dominada pela fofoca, pela religião e pelo culto às aparências.
    Quanto à experiência do cursinho, que se sucedeu à minha experiência ruim do Ensino Médio, vou ser breve, já que qualquer vestibulando sabe bem do que estou falando. Para mim, o cursinho, nada mais é, do que uma tentativa desesperada e desesperadora de “nivelar” os vestibulandos ao fornecer a todos as mesmas aulas, os mesmos professores, a mesma carga horária. Além disso, têm uma capacidade incrível de fazer você pegar toda aquela carga de culpa que você jogava no seu colégio ruim por não ter sido aprovada e fazer você jogar em si mesma. Ou seja, se seu colega que se sentava ao seu lado passou e você não, não é porque ele teve um ensino melhor e chegou ao cursinho mais preparado, mas sim porque você não estudou o suficiente para acompanhá-lo. Cursinho é sinônimo de culpa, cobrança e peso na consciência. Em suma, durante 2 anos: morei fora de casa, comi mal, dormi cerca de 4h/dia, vi minha família só nas tardes de domingo, não realizei qualquer passeio com fins unicamente recreativos, estudei nas férias, feriados, Natais e nas viradas de ano, gastei MUITO dinheiro com moradia, livros, aulas particulares, senti calafrios a cada simulado corrigido, a cada gabarito publicado a cada lista divulgada e chorei, chorei, chorei (por vezes de tristeza, outras vezes de cansaço), mas quando eu passei, de tão chocada, nem chorar eu consegui.
    Pode parecer estranho, Lari, eu estar escrevendo tudo isso e participar dessa discussão mesmo depois de ter tido um “final feliz” para minha história. Mas a verdade é que, depois de ter passado no vestibular, percebi que ele seria só a primeira das minhas grandes provações e que as consequências desse sistema educacional desigual se acentuam na universidade: principalmente numa universidade pública e de Medicina. Não estou mentindo se disser que ainda me sinto “quilômetros atrás, descalça, na chuva, sem protetor solar”, enquanto vejo meus colegas em bicicletas de marcha, com bonés importados e Iphones. E não é exagero dizer que você vai se sentir assim também por muitos anos. É a velha e boa desigualdade, que move o capitalismo há tanto tempo, mas que nós só conhecemos agora porque estamos entrando na insana vida adulta das metrópoles, regada a café e álcool.
    Minha intenção ao escrever isso não é, de forma alguma, tentar competir com você para que o público decida quem tem a vida escolar mais frustrada ou quem mais sofreu para passar no vestibular. Tampouco pretendo te desanimar acerca do longo caminho que você vai enfrentar em busca desse sonho mal remunerado. Só pretendia tomar a minha história como exemplo para ilustrar o que nós já sabemos: que a maioria das escolas particulares do Brasil também é ruim, tanto quanto as escolas públicas, e não prepara adequadamente para o vestibular, nem para a vida acadêmica. Também sabemos que há algumas escolas públicas excelentes e, mesmo assim, os seus alunos recebem bônus. Também já conheci quem matriculasse os filhos em escolas públicas só para que eles entrassem no sistema de cotas. E já conheci brancos (não disse morenos, pardos ou mulatos) que se autodeclaravam negros nas inscrições dos vestibulares e pessoas de posse afirmando ter renda mensal inferior a 1,5 salário mínimo.
    O que pretendo é apenas justificar minha posição dúbia acerca das cotas (motivada em partes por motivos pessoais) e alertar que ações afirmativas não sanam injustiças, apenas as amenizam (principalmente para a parcela da população à qual se destinam). O ideal seria que, paralelamente a elas, fossem trabalhadas ações mais permanentes e que contemplassem outros setores da sociedade também prejudicados. O que me dizem sobre cotas em escolas particulares, por exemplo? E sobre bolsas de estudo baseadas em desempenho e critérios socioeconômicos? Por que não transferir para o setor privado parte do problema com que tem de lidar o setor público?
    Gostaria muito de discutir mais sobre isso e, quem sabe, tornar-me uma defensora efetiva e mais ativa do sistema de cotas!

    • Adorei seu comentário. Me sensibilizei muito também pela sua história e só posso te desejar força para o resto da vida. Muito obrigada por compartilhar suas experiências e opiniões comigo. Sei que muito colégios particulares nos deixam descalços por ai, sem filtro solar, mesmo quando propagandeiam um ensino de qualidade e cobram uma quantia absurda de mensalidade. Infelizmente, não sei se esse é um problema que o governo pode resolver. Mas não sei mesmo, porque não entendo muito de política, hahaha. Entretanto, acredito que algo devia ser feito com essas escolas porque elas são empresas e seus clientes não estão nada satisfeitos. Deveria haver alguma maneira de fazê-los melhorar ou algo do gênero. Principalmente em escolas do interior, (onde sei que as públicas podem ser piores que as públicas da capital) deveria haver algum tipo de “controle de qualidade” (me desculpe pela falta de expressão melhor) porque inúmeros pais e alunos continuam sendo enganados e pagam mensalidades altas para que os filhos não tenham ensino de qualidade.

      Dito isso, gostaria de fazer alguns comentários a respeito do que você disse:
      Primeiro: Não conheço nenhuma escola pública excelente. Por favor, me diga o nome de algumas porque poderei indicar para alguns conhecidos! (Sem ironia, juro)
      Segundo: Sobre as pessoas que matriculam seus filhos em escolas públicas só para que eles recebam “bônus”: Essas pessoas são burras, na minha opinião. Sujeitar seu filho a um ensino de má qualidade na esperança de ganhar algum bônus é completamente incoerente, porque o bônus será insuficiente para suprir as dificuldades que a criança terá após deixar a escola. Acredito ser muito mais produtivo investir em um ensino de qualidade e incentivar a criança a estudar corretamente para que ela tenha chance nesses vestibulares mais importantes.
      Terceiro: Sobre os que se autodeclaram pardos, negros etc sem realmente ser ou os que declaram ser pobres sem realmente ser, gostaria de dizer que existem sistemas de verificação para impedir que isso aconteça. Toda vez que você se inscreve em alguma faculdade alegando ter renda baixa, por exemplo, ou alegando que estudou em escolas públicas, você passa por uma verificação séria e caso você não tenha como comprovar o que você apontou, você perde sua vaga. E eles mandam e-mails para os vestibulandos lembrando-os disso exaustivamente. (Sei disso porque a Fuvest me manda inúmeros e-mails me lembrando que eu preciso comprovar minha escolaridade) Espero que esse sistema de verificação seja eficiente. Além disso, gostaria de deixar uma reflexão: Existe aposentadoria por invalidez no INSS. Acredito que você tenha conhecimento disso. Caso uma pessoa se machuque no trabalho de uma forma que não tenha mais como trabalhar ou caso uma pessoa tenha uma doença que a impeça de se sustentar, o INSS te proporciona uma aposentadoria antecipada por invalidez (desculpe, mas não sei bem como funciona o sistema, estou apenas tentando construir uma analogia). Acredito que muitas pessoas tentam forjar documentos médicos para ganhar esse tipo de benefício sem realmente merecê-lo e acho isso horrível e muito censurável. Acredito que algumas pessoas possam até conseguir o benefício sem realmente merecê-lo, apenas com enganação. Mas fica a pergunta: É justo eliminar esse tipo de benefício, tirá-lo de todos, por conta de algumas pessoas sem caráter? Acho que não.

      Espero que meus comentários te façam se sentir melhor em relação as suas dúvidas em relação ao sistema de cotas, muito aceitáveis e que não critico de forma alguma (entendo plenamente).
      Desculpe não poder responder seus demais questionamentos. Juro que responderia se pudesse, mas não tenho conhecimento suficiente para fazê-lo.

      Muito obrigada pelo seu comentário. Muita sorte e felicidade na sua vida!

  18. Olá Lari, sou realmente privilegiado por ter estudado em uma escola particular (uma que não chega nem aos pés das citadas por você acima), embora tive sérios problemas em relação ao professor de matemática. Meu pai se matou para paga-la para mim, e a valorizo muito por isso! Igual a você, por causa de uma bolsa monstruosa estudei esse ano no anglo (não na tamandaré) no período da noite e trabalhei também! Meu objetivo não é a FUVEST. E sou totalmente favorável as cotas, porém não como elas são distribuídas. Conheci pessoas que optaram em fazer escolas públicas e 3 anos de cursinho só por causa das cotas, isso é um abuso para quem realmente precisa das cotas por terem estudado sem condição a vida inteira, e também com quem estudou nesses colégios ‘tops”, pois esses alunos ralaram em algum momento para aprender (nem que para passar nas provas do colégio, mas algum momento eles ralaram. Realmente ninguém normal aprende por osmose), acho que a partir do momento que a pessoa entra num cursinho, seu acesso as cotas deveriam ser dificultados, pois no cursinho tem-se a chance de estudar em mesmas condições que essas pessoas desses colégios tops (e muitos desses alunos que estudaram nesses colégios, provavelmente os pais abriram mão de muitas coisas, inclusive necessidades, para o filho ter uma educação melhor e a chance de brigar por uma vaga na faculdade pública), e a partir de um segundo ano de cursinho não ter mais acesso nenhum. Pois o primeiro ano ao ser levado a sério pode nivelar os déficits ao longo de uma vida acadêmica. NÃO ESTOU DIZENDO QUE QUEM ESTUDA NOS MELHORES COLÉGIOS DE SÃO PAULO SÃO COITADOS E INJUSTIÇADOS PELAS COTAS. Muito pelo contrário, concordo totalmente com o que você disse Lari, eles são realmente privilegiados, mas optar por fazer 2 ou até 3 anos no cursinho durante o colégio só para ter acesso a cotas é absurdo!

    Obs.: adorei o seu texto, bjss.

    • Hugo, concordo imensamente com muito do que você disse. Realmente, é ridículo sujeitar uma pessoa a estudar em uma escola pública apenas para ganhar cotas. Não tenho nem comentários a fazer a cerca de pessoas com esse tipo de atitude que classifico como “sem noção”.
      Entretanto, gostaria de fazer uma ressalva que já fiz em outro comentário: As universidades sabem quem são os alunos cotistas que fazem cursinho e quanto tempo de cursinho eles fazem e mesmo assim continuam disponibilizando o bônus. Acho que as universidades sabem o que estão fazendo. E vou te dizer porque concordo com elas: Veja que alguém que estudou 3 anos em um colégio péssimo não tem a base de muitas matérias importantes. O cursinho não é um outro ensino médio. Ele tem objetivos mais bem traçados, conteúdos mais marcados, menos aulas… A pessoa que fez um colégio ruim tem muita dificuldade para acompanhar. Enquanto uma pessoa que fez um colégio ótimo ou bom demoraria hipoteticamente 3 anos para entrar em uma boa faculdade de medicina (estou dando esse exemplo porque é um dos cursos mais concorridos e também é meu caso), talvez o estudante de escola pública demore 5. Porque ele não sabe diversas coisas que não se ensina no cursinho, porque ele não consegue acompanhar as aulas e por diversos outros motivos. Muitos colegas meus precisaram de 2 anos para conseguir ingressar em cursos muito menos concorridos como biologia, meio ambiente, administração entre outros (Sem querer desprestigiar nenhum desses cursos, claro, porque são todos igualmente merecedores de valor) mesmo com a cota. Imagine se a cada ano que passasse eles tivessem menos chance?

      Não sei. Essa é minha opinião. Mas o que você disse pode ser considerado válido com certeza.
      Obrigada pelo comentário!

  19. Sério? Veio desabafar de sua nota de merda? Vai estudar e da próxima vez não marque a opção de cotista. Acha que é fácil para todo mundo só por ter dinheiro e que sou menos merecedor que você porque meu pai que nasceu pobre e ganhou dinheiro hoje pode me por em boas escolas? Também perdi peso, deixei de sair e briguei com muita gente!

    • Rafael, não vim desabafar minha nota de merda. Obrigada pela sua opinião incrivelmente educada. Não estou preocupada com a minha nota de merda. Já conseguir melhorá-la, muito bem obrigada. Meus pais também trabalham muito, mas infelizmente não tem condições de pagar escolas caras, mas isso não me desqualifica de maneira alguma como merecedora de estudar em uma boa faculdade. Não pretendi dizer que você é menos merecedor. Você é tão merecedor quanto qualquer outra pessoa. Tomara que você alcance seus sonhos.
      Mas mesmo quando estudar mais e conseguir meu ingresso na faculdade terei marcado a opção de cotista pois tenho direito a ela.
      Seja feliz.

  20. Olá querida! Em primeiro lugar quero te dizer que sempre a resistência do oprimido irritará o opressor. Mas continue resistindo! Bom, vc sabe que é privilegiada tbm, em relação a mim é muito. Mas isso não quer dizer que eu odiei seu texto, e acho que vc está reclamando de barriga cheia. Eu entendo você, porque tbm sou oprimida por esse sistema ilógico de seleção dos vestibulares que estão envoltos em uma “ideologia” superficial de meritocracia que acha que estamos competindo por um vaga de igual pra igual. Em toda competição justa, os competidores saem de uma mesma posição, mas são seus méritos conquistados durante o seu treino que o definirão como vendedor, fazendo um paralelo com vestibular e uma corrida olímpica, por exemplo. Já me senti muito mal por não ter passado como vc tbm se sentiu, mas pra vc ainda deve ter sido pior, porque teve que escutar comentários escrotos de riquinhos do Anglo, como eu fiz cursinho popular não vivi isso. Enfim, não sei o que dizer para te consolar, mas sei que você não deve desistir jamais! Apesar de TODOS OS PESARES. O dia que vc passar, vai romper com o sistema que determina que vc não deveria estar na faculdade e isso vai incomodar MUITO OS OPRESSORES, mas não pare de lutar. Menina linda, não desista! Belíssimo texto!

    • Muito obrigada, gabriella! Adorei seu comentário. Muita sorte para você na sua luta. Te desejo tudo de bom. Espero que você tenha muito sucesso pois te vejo como uma vencedora só por um simples comentário.
      OBS: Só queria te deixar claro que não estava reclamando de barriga cheia, viu? Não estava reclamando da minha condição pois sei que só tenho a agradecer. Só fiz o texto para criticar aqueles que você chamou de “opressores”, não para reclamar.

      • Oi querida! Não ficou muito claro no meu comentário, mas o que realmente quis dizer era que: não odiei o texto eu não acho que você está reclamando de barriga cheia, não acho que é isso. Quem diz q vc está reclamando de barriga cheia são pessoas não oprimidas por esse sistema e por isso não entendem o que você passou e sentiu, então ignore esse tipo de argumento. 🙂
        Beijos! Obrigada, sucesso para nós!

  21. Muito interessante o texto e concordo em grande parte de tudo que foi dito. O que muita gente não entende é que as cotas existem para “equilibrar” notas de alunos que tiveram as oportunidades de terem aulas completas com todas as matérias e dos alunos que não tiveram os melhores ensinos. Das cotas para ensino público eu sou a favor, as únicas cotas que eu acho que são desiguais são as raciais, por mais segregar do que juntar estudantes de diversas raças,mas isso é tema para uma outra discussão então apenas finalizando, gostei muito do desabafo ainda mais por ter vindo de uma ex-aluna do pj, me formei lá esse ano o/ enfim, boa sorte e continue seguindo os seus sonhos.

  22. Argumentação falha.
    Some todos os alunos que se formam a cada ano nesses colégios que você considera de grife. Você acha que eles seriam suficientes pra ocupar todas (ou vai, 50% que fossem) das vagas de todas universidades públicas de São Paulo? Isso considerando que todos eles passem, o que não é o caso. Aliás, mesmo num colégio top, tipo Bandeirantes, menos de 30% dos formandos passam direto em vestibular. Meu colégio era um desses de “grife” que você citou e ainda assim, nem 10% passaram em pública no meu ano. E aí, como fica?

    Você pode até defender cotas, mas seu texto é uma redução ad hominem que não leva a lugar nenhum, e não faz nem sentido.

    Continue estudando e boa sorte.

    • M,
      Desculpe pela minha “argumentação falha”. Não pretendia escrever uma tese de mestrado. Apenas um desabafo. Peço reais desculpas, porque não sei realmente escrever muito bem, dai acredito que veio a falta de entendimento de muitas pessoas e sua opinião (válida, claro) de uma argumentação falha.
      Então, sei muito bem que não são todos as pessoas que passam nos vestibulares, mesmo quando estudam em escolas ótimas. Sei que muitos que estudam em escolas ótimas, estudam e se esforçam muito e mesmo assim não conseguem. Isso porque o vestibular é uma luta para todo mundo (mais árdua para alguns do que para outros).
      Não estou dizendo que essas pessoas passam direto e muito menos que eu deveria ter passado direto. Passar direto é exceção, não regra. Sei disso.
      Meu texto serviu apenas para criticar pessoas que não estudam tanto, que são privilegiadas e que pensam estupidamente que as pessoas que tem cotas e que não tiveram nem um terço das oportunidades roubam as vagas deles. Por que você pode até dizer que não é a maioria (e eu concordo) mas tenho inúmeros “colegas” que se enquadram no tipo de descrição que fiz e que tiram os mesmos pontos ou muito mais pontos do que amigos cotistas (ou mesmo eu) e que se consideram “lesados” pelas cotas. É com esse tipo de pessoa que pretendo dialogar no texto.

      Desculpe minha ignorância, mas não sei o que significa “redução ad hominem”. Apesar disso, discordo que meu texto não tenha sentido e que não leve a lugar nenhum. Se isso fosse verdade, ninguém teria entendido e nem concordado com ele (e ninguém teria discordado também, porque é preciso ter encontrado sentido e achar que leva a algum lugar para se perder tempo comentando em discordância como muitos fizeram) E isso não aconteceu. Mas aceito sua opinião, porque, afinal, o texto pode não ter tido nenhum sentido pra você e nem levado você à lugar nenhum.

      Para finalizar, gostaria de deixar aqui minha opinião de que usar frases em latim para comentar em textos de uma adolescente sobre cotas, apenas para “agregar valor” ao seu argumento, sabendo que dificilmente você será entendido (afinal nem todo mundo sabe falar latim, né, convenhamos) é, na minha opinião, arrogante e desnecessário.

      Mas desculpe se isso te ofender.
      Obrigada pela boa sorte! Desejo boa sorte para você também em suas empreitadas na vida, com sinceridade.

  23. Lari, gostei do seu texto.
    Por mais que, alguma coisas são “óbvias”, infelizmente, pra muita gente isso não é obvio.
    É obvio a diferença entre uma escola particular e pública. É obvio que quem estuda no dante e no bandeirantes não vai concorrer com galera de escola pública. Mas o foda é que essa galera nao quer ver. Essa galera escuta do pai e da mae, a vida toda, que cota é uma esmola, que qualquer política que tente nivelar a população é algo errado.
    Eu não entendo isso. Eu não entendo por que dessa galera reclamar TANTO das cotas!

    Eu estudei a vida inteira em escola particular. NUNCA, NUNCA pensei em fazer faculdade pública. Nunca quis isso, nunca fui cobrado pra isso. Sempre tive na cabeça que, me formaria e arrumaria um emprego e pagaria minha faculdade. Fiz isso, e na instituição que eu me formei, tinha MUITA gente do pró uni. Eu via MUITA gente, mas muita mesmo, puta da vida com isso. Puta da vida de que ele tinha que pagar X de faculdade e tinha alguém lá que nao pagava nada.
    Eu nao entendo isso.
    Eu sempre pensei o contrário!
    Achava um máximo uma pessoa que não tinha a persperctiva nenhuma poder estudar ali comigo! Que eu tinha emprego e “podia pagar” a faculdade…e alguém que não podia estar lá junto comigo.
    É um pouco mais justo! É um país um pouco mais justo! Eu sempre tive oportunidades pra tudo…
    Conheci pessoas que sairam do interior, que não tinham condição nenhuma de estudar num colégio particular, que ralaram muito pra conseguir passar em uma prova pra poder estudar em uma instituição PARTICULAR de são paulo! Imagina uma disputa para uma faculdade PUBLICA.

    Qualquer ser humano, que tem o mínimo de estudo, sabe a importância das cotas.
    Quem fica de mimimi, nem esquente…provavelmente vão estar reclamando com um iphone ultimo modelo, no carro importado do papai =)

  24. Acabei de me formar no Camargo, também etec. E é lógico que as etec são um tanto melhores que que que que as demais públicas, mas não chega aos pés de uma particular, digo isso porque eu já estudei em uma, e olha, eu pagava 500 reais, e como eu vi em comentário, de pessoas que pagavam 700 e faltava professor, me desculpa, mas isso não é um contra argumento porque com 700 reais dava pra pagar uma escola muito boa! Eu fiz esse ano, junto com o médio, o cursinho tbm, fiz no objetivo. E meu qualquer aluno de escola pública que entra no cursinho fica maravilhado né, porque nunca viu um professor explicar tão claramente uma matéria, em tipo 45 minutos! Mas no cursinho eles te jogam a matéria, nínguem vai te ensinar nada lá, você que tem que ir atrás. Tinha mais cinco meninas do Camargo comigo lá, eu fazia à noite. E todo mundo sabe que cursinho à noite, não rende. E nao estudei quanto eu deveria também, mas estudei mais que todos os anos juntos da minha vida! Ai medicina, por que queremos isso? Uma jornada quase impossível ne? Mas o que eu quero dizer é que nao tem como fazer cursinho sem uma base, tem um amigo meu do anglo, que era da etec parou no segundo ano e foi pra uma escola publica comum pra fazer cursinho de manhã, e agora dps de 3 anos de anglo conseguiu passar pra segunda fase da fuvest… Mas eu vejo gente que acaba de sair da escola particular entrando em medicina! Sei lá, a etec pra mim só me ensinou a correr atrás das coisas… Vou fazer o que? A única coisa que eu posso fazer é continuar no cursinho, e procurando a base que eu não tive! Sou a favor das cotas, sim! Temporariamente, até o Governo nos dar de volta, todos esses impostos que pagamos, em forma de melhoria educacional…

  25. Lari, me identifiquei muito com seu texto. Me formei na ETEC Aprigio Gonzaga e também corri atrás do prejuízo para realizar o sonho de ser médica.
    Foram três anos de cursinho (e de muito esforço) até conseguir entrar na Pinheiros.
    Compartilho da sua opinião sobre as pessoas que tanto criticam a cota. Mas hoje convivo com pessoas super diferentes de mim no quesito econômico. Sei que muitas dessas pessoas não imaginam a realidade que nós conhecemos e vivemos. Muitas vezes elas só não sabem o que estão dizendo por não imaginarem o que é a escola pública de verdade.
    Que lindo ler o quanto você se sente privilegiada pelo que teve em seu colégio. Compartilho desse sentimento também.
    As diferenças persistem durante a faculdade sim. E muitas vezes eu me revoltei em ver pessoas que não merecem estar naquelas salas, naquele hospital ocupando a vaga de tantos amigos de escola e de cursinho que talvez nunca cheguem lá. Amigos que realmente querem estar lá. Sabe aquela história de fazer medicina porque os pais querem? É mais comum do que eu imaginava!
    Hoje tento pensar que é a vida. E sinto orgulho por conhecer diferentes realidades. As vezes sinto que entendo meus pacientes melhor que outros colegas por causa disso.
    Enfim, parabéns pelo texto!
    Se quiser conversas sobre cursinho, faculdade ou sobre a vida estou a disposição.
    Muita sorte em sua trajetória até a faculdade.
    Tenha certeza de que vale a pena… porque vale muito!!

  26. Exato. Esse é o ponto. Senti meu ensino médio descrito aí (também cursei uma ETEC). Mas mesmo assim, isso é uma crítica isolada ás pessoas imensamente favorecidas que gorjeiam e cacarejam falácias contra o sistema de cotas. O sistema de cotas é bom sim, mas não devia existir. É muito mais barato e cômodo do que investir em infraestrutura e incentivos aos professores.

    • Concordo que as cotas são paliativas, como você disse. E obrigada por entender que isso é apenas uma crítica isoladas as pessoas imensamente favorecidas, como você mesmo disse. Fico muito feliz que me entendeu, apesar de talvez eu não ter me expressado muito bem.

      Obrigada!

  27. Menina, vendo esse texto seu e conversando com alguns amigos, a única coisa que eu tenho pra falar é: “meritocracia de c* é ro*a” (desculpa o palavreado, por isso coloquei os ** hahah).
    Pra mim vestibular é mais sorte que qualquer outra coisa. Depende de como você está na hora da prova, se você dormiu bem e de inúmeros outros fatores que não dá nem pra citar aqui e que independem de você ter se matado de estudar ou não.
    Eu também estudei em um colégio público quase igual ao seu, que tinha vestibulinho e tal. Esse colégio sempre ficou entre os melhores do enem. Pode olhar lá no ranking esse ano que vai tá lá (esse ano só não ficou em quarto porque esses colégios fodões tem que fazer o marketing deles e não podem ficar atras de colégio público, ainda mais de Minas. Daí entram com recurso). Meu material sempre foi o que o governo dava e alguns outros que a gente tinha que comprar, que era meio caro, mas sempre tinha veterano pra vender os livros usados. Enfim, o diferencial de lá é que os professores cobravam tanto que a galera era obrigada a estudar. Eu sei que eu estudei mais pra passar de ano do que pro vestibular. Mas, acabei passando em medicina na Unicamp direto do terceito ano (colégio de manhã e cursinho da cidade mesmo, nem anglo nem nada, a noite). E vou te falar que foi na sorte.
    Quando eu vejo histórias iguais às suas, eu fico até sem graça. Mas infelizmente esse nosso sistema baseado na “meritocracia” tem dessas coisas.
    Passei na primeira fase no susto. Fiquei, exatamente, no ponto de corte. Uma questão que eu tivesse chutado e não tivesse acertado, eu não estaria falando isso pra você hoje. Só fui estudar mesmo, pra valer, depois que eu vi que tinha ido pra segunda fase. Sorte foi os 30 pontos da cota na nota final…
    Moral da história: eu vim pra faculdade no susto. Tanto que no Enem eu não passava em medicina nem se eu quisesse. Não sabia nem como era a cidade que eu ia morar. Agora me fala: eu mereço mais que você que se matou pra passar? Claro que não (e acho que no fim das contas não da pra responder essas coisas). E olha, vou te falar, também, que tem muita gente na faculdade que não merece estar ali. Fico vendo algumas coisas que certas pessoas fazem que qualquer um ficaria abismado. Tudo por “amor a faculdade” e pra “dar o sangue” etc…
    Pra mim você e tantos outros nas mesmas condições que você merecem mais entrar numa faculdade de medicina do que muita gente que já passou. E falo isso por experiencia própria. Você vai ver quando entrar também. Só falo pra não desistir e continuar tentando. Fica mais em paz com você mesma, não se estresse e respeite os seus limites. Pelo menos isso acabou dando certo pra mim. No mais, boa SORTE ano que vem!

    • Concordo com você que a meritocracia é uma balela. Mas não se sinta sem graça não, se você entrou na faculdade é porque de algum jeito o que você fez funcionou! Hahaha. E tenho orgulho de conhecer uma pessoa que estudou em uma escola como a minha e conseguiu superar as dificuldades como você. Você é uma vencedora. Obrigada pela boa sorte.

  28. Oi Lari! Me identifiquei mais do que gostaria com o seu texto. Também me formei no Pj e busco o sonho (que muitas vezes me parece quimérico) de cursar medicina em uma faculdade pública. Estou terminando meu segundo ano de cursinho (também no Anglo, mas no da Sergipe) e encaro a dura realidade de que, muito provavelmente, irei para meu terceiro ano de cursinho pré-vestibular.
    Ainda me parece um absurdo que vou para meu terceiro ano. Eu, que sempre fui uma das primeiras da minha classe no ensino fundamental (também da rede pública) e que sempre me orgulhei de nunca ter tirado uma nota vermelha em nenhum boletim da etec. Nesse tempo, alunos se graduaram no ensino médio; amigos meus já estão com a vida encaminhada dentro da faculdade e eu ainda estou aqui, esperando pra ter um lugar ao sol…
    Mas enfim, por estar em uma situação semelhante à sua, também compartilho de suas ânsias e decepções. Ainda hoje, como sequela de um ensino defeituoso, tenho enormes dificuldades em certos conteúdos cobrados no vestibular e, para tanto, estudo o máximo que posso para tentar me nivelar com esses alunos de escolas “tops”.
    Espero que tenho consciência de que o seu método de estudos não foi exatamente adequado, mas que (momento clichê) com equilíbrio, luta e perseverança certas injustiças sociais serão, em parte, amenizadas.
    E aqui (http://www.comvest.unicamp.br/noticias/desempenho_paais.html) um estudo realizado pela Unicamp mostra que alunos oriundos de escola pública, embora apresentem um desemprenho relativamente menor no vestibular comparado aos outros alunos, ao final de quatro anos, equipararam suas notas (em alguns casos, mostraram-se até superiores). Ou seja, para o argumento de que alunos de escola pública são preguiçosos, privilegiados por uma mísera cota e que estão “roubando” a vaga de alunos de escola particular além de reduzirem o nível dessas faculdades, apresento apenas as sábias palavras de Caetano Veloso: “Não, você é burro cara, que loucura. Que coisa absurda. Tudo isso que você disse ai é burrice. Eu não consigo gravar muito bem o que você falou porque você fala de uma maneira burra”. Desculpe pela extensão e boa sorte nas futuras provas. Nos encontramos nos hospitais por aí :]

    • Nossa, o fim do seu comentário tirou as palavras da minha boca! Eu estava realmente querendo saber qual era esse estudo para poder colocar aqui nos comentários. Muito legal da sua parte ter colocado aqui.
      Sábio Caetano! HAHAHAHA

      Obrigada pelo seu comentário. Boa sorte na vida ai, espero te encontrar mesmo 🙂

  29. Cara Larilaranja,
    Raramente me disponho a responder textos da internet, mas o seu me interessou.
    Você já refletiu na possibilidade de: se tivesse sido aprovada de primeira (depois de seu válido esforço) com uma nota quem nem precisasse de cota, será que teria a mesma opinião sobre a mesma?
    Não é uma pergunta retórica, eu realmente gostaria de saber sua opinião. Se sua visão foi moldada apenas pela sua dificuldade específica, ou se é realmente uma crítica ao comportamento de alguns setores descritos por você no texto.

    • Respondendo a sua pergunta: Meu texto é uma crítica ao comportamento de alguns setores descritos por mim no texto. E sim, teria a mesma opinião, pois se isso tivesse acontecido comigo por algum milagre, não teria acontecido com inúmeros conhecidos e amigos que batalham tanto para entrar em cursos muito menor concorridos que medicina e não conseguem porque tiveram um ensino médio precário. Isso só aconteceria se o ensino público no Brasil fosse realmente bom e isso só vai acontecer com muito, muito, muito investimento em educação (as cotas não arrumam o ensino de ninguém). Minha visão não é moldada por minha dificuldade específica. Minha dificuldade específica depende de mim e de mais ninguém e não tenho a intenção de culpabilizar ninguém que não eu mesma por essa dificuldade. Só queria, realmente, fazer com que algumas pessoas refletissem melhor sobre algumas colocações.
      Obrigada pelo seu comentário!

  30. Oi, tudo bem? Antes de tudo, não quero polemizar nem nada, mas tenho dois comentários pra fazer! Porém, antes deles, queria expor aqui que fiz colégio particular (um dos melhores da minha cidade) e sou muito grata por meus pais terem condições de poder pagá-lo. Eu tive sorte, sou também MUITO privilegiada. E, nisso, emendo meu primeiro comentário: quem pode estudar em um colégio bom – e particular – tem SORTE. No Brasil que vivemos hoje, os jovens que têm condição de ter tudo isso o que você falou em seu texto, os têm porque tiveram sorte de nascer em uma família boa; porque sabemos que no Brasil é assim, infelizmente. Concordo que essa é uma situação muito errada, todos deviam ter direito à moradia, segurança, conforto e felicidade (principalmente com os altos impostos que pagamos), mas você culpar esses jovens por isso é muito errado. Eles são frutos do sistema decadente que vivemos hoje, assim como eu e você. Eu sei que muitos não reconhecem o valor que os pais pagam nessas escolas, e em muitas outras pelo país, mas também temos o lado desses outros jovens: eles foram criados assim. Não digo que esse tipo de criação é certa – longe disso! – mas você entende que não foi por vontade ou “culpa” deles. O problema está no caos que é o nosso país de hoje. Ficar culpando esses jovens não vai mudar nada lá em cima; e é lá que está a raiz do problema – e é lá que é preciso mudar.
    Um outro ponto que eu queria comentar é que, se você estuda em escola pública e teve como pagar um cursinho preparatório, não entendo porque pegou a cota de escola pública. As cotas deveriam ser para aqueles que estudaram em escola pública apenas, pois, com o cursinho, você já estaria bem à frente de outros mesmos cotistas de escola pública. Sou sim a favor de cotas, mas como uma medida que precisou ser tomada para suprir as necessidades de imediato, enquanto se resolvia a situação da escolaridade no país. Mas, como todos sabemos, não é isso o que está acontecendo. Pouco se mexeu nesse setor e ainda há um longo caminho pela frente, mas também não vejo as pessoas – cotistas inclusos – lutando por melhoras. Sei de muitos adolescentes que já optam por fazer escola pública e no segundo ano já entrar em um curso pré-vestibular para conseguir as tais cotas… Pois é, todos frutos do caos.
    Eu agradeço a paciência, sei que o texto ficou bem longo (e ainda tive que compactá-lo bastante hehehe, deixei várias coisas de fora) mas senti a vontade de manifestar minha opinião. Espero não tê-la ofendido em nenhum momento – apesar de você mesmo ter me ofendido em várias partes do seu texto (“mesmo o texto não sendo direcionado para o meu colégio”). Obrigada. =)

    • Obrigada pelo seu comentário extremamente respeitoso. Resolvi respondê-lo por três motivos:
      1° Para te pedir desculpas por ter te ofendido. Eu espero que você entenda que eu estava falando de pessoas que se encaixassem em TODA a caracterização que eu fiz. Só o simples fato de você ser a favor das cotas já mostra que meus comentários “ofensivos” não se dirigem a você. Dirigem-se a pessoas reais, com as quais eu convivi e ouvi absurdos como os mencionados no texto e você não parece ser esse tipo de pessoa. Por favor, não se ofenda.
      2° Eu pago 500 reis de mensalidade no Anglo (porque tenho bolsa de estudos) e as pessoas parecem não entender que é simplesmente IMPOSSÍVEL encontrar um colégio particular de ensino médio descente por esse preço, principalmente na zona norte, onde eu moro. E sim, eu tenho direito as cotas. Porque eu fiz um colégio que não me preparou o suficiente, independente de eu poder fazer cursinho. O fato (que a grande maioria das pessoas que estão comentando aqui se recusam a entender ou desconhecem) é que se uma pessoa que estudou em escola particular (BOA, UMA BOA. Porque EU SEI que existem escolas particulares PÉSSIMAS e que chegam a cobrar um absurdo por mês) fica hipoteticamente 3 anos no cursinho para tentar entrar em um curso de medicina, eu ficaria 5. Entende? Eu precisaria de 2 anos a mais só para alcançar o nível que a pessoa já tinha quando saiu do ensino médio, porque minha formação foi problemática. Então, enquanto essa pessoa pagaria cursinho por 3 anos, eu pagaria por 5. É por isso que eu tenho direito as cotas. Porque eu fiz uma escola que não me deu formação de qualquer jeito e não é com um passe de mágica que eu vou aprender tudo que não aprendi. É como se eu tivesse que fazer o ensino médio todo novamente, só que no cursinho. Por isso eu “peguei” a cota para escola pública. Porque eu FIZ escola pública.
      3° Eu sei muito bem que o problema da educação brasileira não será resolvido com cotas. É por isso que não entrei nesse mérito. Sei muito bem que as cotas são um paliativo. E eu não estou culpando os alunos de escolas boas pelo problema da educação. Também não quis dizer que as pessoas que são privilegiadas que são as culpadas pelo meu insucesso no vestibular. O meu insucesso se deve a inúmeras coisas e eu não tenho a intenção de culpabilizar ninguém que não eu mesma. Eu somente quis no texto fazer com que certas pessoas (que se enquadram em TODAS as características que enumerei em parágrafos bem extensos) pensassem sobre o tipo de comentário ignorante que fazem pelos corredores do cursinho, colocando a culpa nos estudantes de escola pública que são bem menos preparados que eles por não terem tido sucesso no vestibular, porque isso é um absurdo. E aparentemente você não é uma dessas pessoas, então me desculpe se te ofendi, mas o texto não fazia menção a pessoas como você.

      Obrigada pela atenção e desculpe se não fui muito simpática no comentário, juro que adorei o que você disse e que só desejo o melhor pra você. Obrigada mais uma vez por um dos comentários mais sensatos que recebi aqui.

      OBS: Pense o seguinte: A USP, por exemplo, criou o INCLUSP (que é o programa de bônus para estudantes de ensino médio de escolas públicas) sabendo que alguns desses estudantes fizeram cursinho. Inclusive, no questionário socio-econômico eles perguntam se a pessoa fez cursinho ou não e por quanto tempo. Ou seja, eles SABEM que muitos dos que recebem o bônus tem condições de estudar em um cursinho e mesmo assim eles disponibilizam o bônus. Eles sabem e eles dão o bônus mesmo assim. Se pessoas que estudaram em escola pública e que fazem cursinho não fossem ELEGÍVEIS às cotas, elas não teriam o direito e ponto final. A USP decidiu nos dar esse direito. Veja que provavelmente ela sabe o que está fazendo.

  31. Iae, tudo bem?
    Eu sou um dos alunos que estudou nesses colégios que você citou e quero deixar alguns comentários:
    1º) Acho que entendi o seu ponto de visto e concordo plenamente. Acredito que as cotas não “destroem” os sonhos de ninguém já que os alunos do sistema publico sofrem de extrema defasagem.
    2º) Além disso, acho desculpa esfarrapada dos alunos do Etapa, Bandeirantes, etc dizerem que as cotas os prejudicam. Pô, eles têm muito conhecimento, muitas portas abertas, inglês fluente e tudo mais. Eu tive amigos e amigas nesses colégios que hoje estão em ótimas universidades e que eu me lembre isso NUNCA foi uma preocupação para nós. Por que a gente estudava, a gente se dedicava, tanto quanto você. Hoje eu estudo em uma faculdade de nome e tenho amigos e amigas na MED-USP, MED-Unifesp, São Francisco e POLI. A maior parte passou direto e acredito que passariam inclusive se existisse uma “cota ao contrário”.
    3º) Contudo, admito que enquanto lia seu texto muitas vezes eu sentia que você se colocava muito como vítima. Talvez você tenha razão. Mas saiba que você está em melhores condições que muita gente, inclusive pessoas que fazem esses colégios bons mas que entraram lá de paraquedas, com bolsa, vem de família humilde, etc. Então se esforce e se aprimore. Uma coisa que me ajudou nessa época foi o pensamento: Não importa se fulano estudou nesse colégio desde a 5ª série, se faz olimpíada desde que nasceu ou se é gênio. Eu to com Deus, eu tenho energia, eu vou alcança-lo.

    • Muito obrigada pelo seu comentário.
      Não quis me fazer de vítima de coisa alguma, apenas quis criticar as pessoas que você citou em seu “2°”. Sei muito bem que tenho muita sorte pela minha situação. Sei que estou em melhores condições que muita gente e é pensando neles que fico revoltada com pessoas que afirmam ter tido os seus “sonhos destruídos”. Fiz o texto para criticar justamente essas pessoas, que você mencionou em seu comentário. O que contei sobre a minha vida no início do texto foi apenas para ter uma situação servindo como “ilustração” de esforço, mas sem intenção de vitimização.
      Fico muito feliz que uma pessoa “do outro lado” possa concordar comigo de maneira tão crítica e interessante como você fez.
      Obrigada mesmo!

  32. Minha linda…me identifiquei plenamente com sua história, assim como vc eu tbm estudei na ETEC Bebedouro, e depois de um ano de muito estudo no cursinho, acertei 60 na fuvest. Mas, quer saber de uma coisa, no final do segundo ano de cursinho passei em medicina em uma faculdade particular, e hoje a faço com ajuda do fies, que tbm custou para eu conseguir. Se vc permite, posso lhe dar um conselho, que tbm serviu para mim. Acredite em algo maior que vc mesma para conseguir vencer obstáculos e superar as barreiras( em Deus por exemplo), não se preocupe com os outros, eles nunca vão te entender( o que o olho não vê, o coração não sente), tenha fé e perseverança, o que importa é que vc vai alcançar seu objetivo. E o mais importante, não se esqueça de onde vc veio e as dificuldades superadas, só assim vc poderá fazer algo de bom para sociedade em que vivemos.

  33. Nossa, esse texto foi muito bom. Me fez repensar as cotas (já concordava, e isso me fez ver ainda por outro ponto de vista, o que é muito enriquecedor), entende? Estudei em colégio particular e tô na física da USP, então vejo e discuto muito sobre cotas lá (uma das maiores lutas do movimento estudantil é mais espaço para a população na universidade). Concordo com o que diz sobre isso não ser um boost, e sim um remendo, pois os realmente privilegiados são os que estudaram, como eu, em escolas particulares, com professores minimamente capacitados (e salários minimamente dignos). Muita gente critica porque acha que a educação vai melhorar muito já para o próximo vestibular (o que, nem preciso dizer, é irreal). É mais ou menos como querer melhoras e incentivo para usar o transporte público criticando faixas de ônibus e não querendo deixar de usar carro. E há quem diz sobre ter um perfil para entrar na faculdade, e só posso dizer uma coisa (não sei se já foi dito): a FUVEST não seleciona direito. Você não entrar em, por exemplo, história, por não saber bem química não acho, sob certo ponto de vista, muito certo, apesar de acreditar que todos devem ter um conhecimento mínimo (cultura científica, por assim dizer) para entrar (não nos moldes do que o vestibular cobra, com exercícios para quem decora, pelo menos em química, na época em que prestei, ou matemática, área que deve ser compreendida, e não decorada cegamente).
    Também gostei do que escreveu sobre meritocracia, que é uma mentira. Muita gente acha que qualquer um consegue, por exemplo, passar em medicina independente da condição. Acredito muito no ser humano, uma conhecida minha veio de Recife para SP, trabalha desde os 13 anos mal tirando férias, luta pra sustentar o marido, mas conseguiu criar o filho a ponto dele conseguir cursar faculdade e se sentir realizado hoje em dia. O problema é que isso custou muito à saúde dela e até hoje ela é analfabeta, não conseguiu realmente viver a vida dela (ela já deve ter uns 50, 60 anos). Só pra pensar um pouquinho no exemplo da meritocracia, para quem ainda acha que ela existe hoje em dia.
    A propósito, gostei do jeito como você não se vitimizou no texto nem ofendeu quem estudou/estuda em colégio particular.
    Acho que escrevi um pouco demais e peço desculpas por quaisquer confusões com este texto, pois fui escrevendo e colocando observações no meio sem muito cuidado, mas acho que dá para entender.
    De qualquer maneira, muita sorte no vestibular e muito obrigado pelo texto!
    Luiz Fernando

    • Muito obrigada você pelo comentário! Adorei o fato de você ter entendido que não pretendi me vitimizar no texto, porque realmente não pretendi, e ver várias pessoas comentando isso por aqui me fizeram duvidar da minha capacidade de escrever com clareza, hahaha. Posso até ter dificuldades para me expressar (realmente tenho) mas saber que muitos também me compreenderam me trás muita alegria.
      Muito sucesso pra você. Espero te encontrar por ai um dia 😉

  34. Você realmente acredita que as cotas não tiram a vaga de ninguém? Este ano, na UFRGS fiquei em 82° lugar em meu curso, não ingressei porque, apesar das 100 vagas, apenas 80 eram para acesso universal: mesmo tendo me dedicado muito, não passei pos estudei em uma escola particular.

    • Cara, então coloque na sua cabeça então que são só 80 vagas disponíveis para você. Estude para passar entre os 80. Reclame da quantidade de vagas que são disponibilizadas pelo governo ou pela faculdade, e não dos cotistas que tem tanto direito de vaga quanto você. Não foi desa vez, dois caras na sua frente. Mas poxa, as vezes a lista roda. São só duas colocações. E esse pessoal que ficou acima de você também não tinha cota e conseguiu passar. Não desista não. Mas não fique pensando que a culpa de você ter ficado de fora é dos cotistas. Veja bem: enquanto você tem 80 vagas para competir com todas as pessoas de escola particular, só há 20 vagas para as pessoas de escola pública (sem contar o sistema universal, claro, porque todos concorrem primeiramente no universal se eu não me engano), então a “concorrência” na verdade é até maior para eles (pensando em candidatos por vaga).
      Sério, não desista. Tudo de bom pra você.

  35. larilaranja, conheci seu texto por um link postado numa comunidade, e, ao passo que fico triste em ver que vc experienciou, de fato, uma situação da qual demandam fortes ações afirmativas, fico feliz que, por ser uma estudante de ETEC, tenha essa consciência desde cedo.

    Eu também estudei em uma ETEC, o Martin Luther King, e atualmente, estudo na Universidade de São Paulo. Digo a você que a realidade na USP não condiz com o espectro socioeconômico e racial do Estado de São Paulo, ou seja, aqueles que mais contribuem com a estrutura estatal e também das universidades públicas são os que menos se encontram presentes nas salas de aula dessas instituições. Nas salas de aula que frequento, muitas vezes, sou o único negro ali presente, em que pese que também moro na periferia, e muitos de meus colegas moram em bairros abastados.

    Muitos daqueles que possuem opinião anti-cotas argumentam que é a educação que tem melhorar, como se somente este fator pudesse equalizar a concorrência no ingresso nas universidades, como se isso fosse a mãe de todos os problemas. Quem estudou em escola pública muito bem sabe que enquanto esperamos o nível educacional melhorar (o que demanda um longo período, tendo em vista a recente universalização da educação, através da CF de 88 e a LDB), veremos sempre um quadro que repete a cada ano, em que mais de 50% dos candidatos que ingressam na USP, por exemplo, são abastados, ou seja, auferem renda familiar de mais de 10 salários mínimos, sendo que, neste mesmo quadro, quando verificamos o quesito racial, mais de 80% dos ingressantes são brancos, ante 13% de negros.

    Atualmente, eu trabalho justamente para que haja igualdade de oportunidade nas universidades e no serviço público, através das ações afirmativas. Atuo na Assessoria da Políticas Públicas na Educafro, que possui longo histórico de lutas em prol do povo negro e pobre.

    Minhas congratulações

  36. Parabéns pelo texto, pela reflexão e muito obrigada pelo merecido tapa na cara. É ácido ler esse texto quando se sabe que ele é destinado a você. Te desejo todo o sucesso do mundo, de uma colega vestibulanda.

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